terça-feira, 27 de outubro de 2009

XÔ, DITADURAS!

Estive assistindo ao filme que conta os horrores da ditadura de IDI AMIN DADA em Uganda, África. Alçado ao poder com expressivo apoio do governo inglês, as relações entre os dois países se deterioraram e o ditador vivia cutucando o governo de sua Majestade; entre diversas provocações, auto-proclamou-se Rei da Escócia e se fez carregar em cadeira de ouro, por quatro infelizes ingleses que viviam em Uganda. Isso foi mostrado via televisão ao mundo todo, e a gente ficava olhando aquelas fanfarronadas pensando até onde a coisa ia chegar. Falastrão, impostor, cruel e sanguinário, mandava matar por qualquer motivo, tendo assassinado cerca de 300 mil ugandenses nos anos em que esteve no poder. Vivia cercado de ouro, enquanto o povo morria de bala, tortura, fome, doença, e, muito caridoso, convidava seus desafetos para banquetes no palácio, servia carnes muito bem preparadas, e depois anunciava, entre gargalhadas, que o conviva tinha comido a carne do próprio filho. Mas foi, como todos os ditadores, acabou deposto. Isto, sem contar que tomou uma traulitada da segurança israelense, que invadiu o aeroporto de Entebe e resgatou os reféns judeus de um avião que um palestino tinha desviado para lá. Morreu em 1979, no exílio, na Arábia Saudita, e hoje é lembrado só pelas crueldades e palhaçadas que fez. Idi Amin hoje é nome do gorila do Zôo de BH (porque mata todas as companheiras que lhe arrumam). De sua megalomania, nada restou. Pensando bem, o cara era mesmo um doido de pedra. Perigoso e cruel, perpetrou barbaridades inomináveis contra seus compatriotas. Jo non creo em brujas, pero que las hay, hay, e agora que veio à tona esta confusão na América Latina, orquestrada pelo governante da Venezuela, com ajuda de mais alguns candidatos a caudilho, apoiando as FARC, isso não está cheirando bem. Abramos nossos olhos, porque a coisa é séria. Eu, hein, saiam pra lá, seus urubus, apesar dos problemas que temos, queremos viver em paz!Não vou me queixar ao bispo!Nos primórdios do descobrimento, na nascente colônia brasileira, quando alguém se sentia lesado em seus direitos, procurava o bispo local e fazia suas queixas. Nasceu daí a expressão “vá se queixar ao bispo” que passou a ser usada até como deboche pelas autoridades, que, quando não podiam ou não queriam atender ao reclamante sobre o que o afligia, aplicavam-lhe tal conselho. Vocês não vão acreditar, mas nós, moradores da Rua Laurêncio, no Imbaúbas, estamos passando por um descaso que atinge as raias do absurdo! Desde o dia 6 de março, nossa rua, em quase toda sua totalidade está envolvida no maior breu, porque a rede elétrica está com problemas. Não pense que é um escurinho qualquer, o trem tá preto, literalmente, a gente tem medo de andar na rua, as crianças não podem brincar defronte às suas casas e é um sufoco esperar pelo regresso de nossos filhos quando saem... Temos medo de tropeçar, cair, quebrar a perna ou a cara ou sermos vítimas de coisa pior! Ligamos para a Cemig no dia 9 (não sei se alguém ligou antes) e nos informaram que ela tem 7 dias para resolver “o problema”. Ligamos para a Aneel, a agência reguladora do setor elétrico, com sede em Brasília, e nos informaram que é problema da Prefeitura. Aí, ligamos para o nº 156 da PMI. O atendente informou que não recebia reclamações a esse respeito, e que ligássemos para a Cemig. Ligamos para a Ouvidoria da Cemig (31) 32993838 (pagamos pela ligação) e fomos informados que problema de iluminação pública, não era problema do setor, e que procurássemos os... responsáveis pela iluminação. Cansados, desrespeitados, indignados, continuamos no escuro, apesar da carga escorchante de impostos que pagamos, inclusive a excomungada taxa de iluminação pública! Meu Deus, é preciso muita paciência, nesse país de faz-de-conta, que só sabe cobrar e dá muito pouco em troca! Será, caro leitor (leitora), que no meio de seus trecos, troços e guardados, por acaso, você teria um lampião, daqueles a querosene, para nos emprestar? Lamparina também serve, mas tem que ser pelo menos umas vinte, pois o breu é intenso, aquela escuridão de roça em noite sem luar, que não permite que se identifique quem vem chegando. Bem, depois de transitarmos de Pilatos a Herodes, sem nada resolver, alguém sugeriu que nos queixássemos ao bispo! Imaginem se vou incomodar o caríssimo dom Lara, meu dileto amigo há mais de 30 anos, com uma coisa dessas, que embora importante, não faz parte de suas atribuições - ainda mais agora na sua condição de emérito -, ou ao dom Odilon! Não, mesmo! Mas no dia da eleição, todos nós vamos ler direitinho os nomes propostos, nem que seja preciso levar velas! E nada mais digo!
(18.03.2008)

ZOOM- Semana passada aconteceu a posse da nova diretoria da APAE, com muita gente importante na solenidade. - O curso ministrado aos professores da rede municipal pelo professor Donadon-Leal, da Ufop, sobre hai-cai, está rendendo frutos e frutos. Haverá concurso para os alunos e professores e já li alguns, lindos. E a indicação do professor foi feita pelo Clesi. - No sábado passado, Mariany Mourão Andrade festejou seus 15 anos no Angel Nobre, com uma linda festa preparada pelos pais, Otacílio e Guilhermina. A turma jovem se esbaldou. Parabéns! - Um abraço para os diretores, professores e alunos das escolas municipais que o Clesi visitou esta semana, em razão da I Semana de Poesia e Literatura. Eu e Marília Lacerda, acompanhadas pelos divertidíssimos palhaços Maritaca e Mosquito, do Grupo do Céu, levamos a meninada à loucura! Foi muito bom! Mosquito e Maritaca sabem fazer o humor que a criançada gosta! - Um abraço especial para a Escola do Game, que fez um trabalho com as crianças com meu livro MARIANA CATIBIRIBANA; havia desenhos, frases e muito carinho. E alunos recitando Cecília Meireles e poemas da professora Isabel Cristina Soares. Foi emocionante! Merci. - Parabéns a Wander Luís Silva, pela sua posse na Federaminas, ao Tigre que papou o Galo e a José de Oliveira pelos 35 anos da Moradia! Um viva para a professora Maria Efigênia de Jesus, que em sua cadeira de rodas, ministra aulas na Escola Everson Magalhães, com alegria e coragem. - Papo animadíssimo sobre Poesia, Movimento Aldravista e Literatura Russa, aconteceu na casa da escritora e psiquiatra Angélica Vacarinni, na noite de 5ª-feira, no encontro em homenagem aos poetas marianenses Donadon-Leal e Gabriel Bicalho. Revi o poeta Moacir Chrisóstomo, com Maria Cione e Lucas, os professores Roberto Abdala e Micheline, Marília Siqueira, Ademar Pinto Coelho, Fabíola e Emerson, todos apreciando um bom vinho e os quitutes de Marízia Edite. Bom demais! - Uma semana de força e coragem, com orações pelos que sofrem nas mãos da guerrilha, pelos que sofrem todo tipo de violência e desrespeito; um beijo para a amada pioneira da cultura ipatinguense, Zélia Olguin, ao som de O Lago dos Cisnes, de Tchaikovsky, enternecendo nossos corações, leitura das eternas e mágicas histórias de Henriqueta e Alaíde Lisboa, costela de porco assada, com tutu e pimenta, saúde e paaz, são os meus votos.- Críticas, sugestões e eventuais elogios pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br. Au Revoir.

sábado, 24 de outubro de 2009

MUNDO, AMARGO MUNDO...

(Uma crônica de 1991)

Mundinho desgraçado este nosso... Após ouvir a notícia via TV que seu chicletes predileto fora incluído na lista de doces contaminados por drogas que estavam sendo vendidas nos colégios, meu filho Tiago, abalado, caminhando de um lado para o outro, exclamou: - Ai, não! Até o chicletes! Será que essas pessoas estão querendo acabar com o doce do mundo, mãe? E me encarou angustiado, tentando decodificar o que há por trás desse hediondo fato, tarefa nada fácil para quem tem apenas 10 anos...Um nó se formou em minha garganta e as palavras, que normalmente me saem fartas e fáceis, falharam. Fiquei ali, muda, sem conseguir dizer sequer uma frase para consolar meu filho.Mundinho nojento este nosso: fome, guerra, Aids, violência sem fim, mundo cão em que nem ao menos se pode ser criança... E aí pensei; isto está acontecendo, meu filho, porque Deus passou a ser só um detalhe, as crianças são só um detalhe, assim como os aposentados, os sem-casa, os “descamisados”. Essas crianças soltas pelas ruas eram um mero e aborrecido detalhe para nossos políticos e deu no que deu, e hoje um tênis vale mais que uma vida humana.Mundinho nojento esse nosso, no qual as mulheres são agredidas na rua e têm seus cabelos cortados a navalha, e ontem vi uma menininha de 6 anos irromper em choro convulsivo, porque passou um menino e olhou para dentro do estabelecimento onde estávamos, e a pobrezinha ficou transida de medo, segurando o cabelo, com medo da agressão.Mundinho cruel este nosso, de pessoas com mãos assassinas que perfuram doces e injetam cocaína, numa crueldade sem fim.Perdão leitores. Nesta crônica de hoje eu podia falar de tanta coisa amena, da beleza verde de Ipatinga, falar de amor, de coisas profundas e sentimentos belos. Mas estas coisas estão ficando soterradas sob um mar de violência e amarga crueldade.E infelizmente, meu filho está certo, estão querendo acabar com o doce do mundo.Que está desgraçado, nojento, sujo, cruel.E muito, muito amargo...ZOOM- Como podem ver, infelizmente, de 91 para cá, a coisa só piorou. Deus nos ajude! Um abraço para Vanilson Cândido e Bete, nesta terça. - Agradeço a todos os amigos que nos prestigiaram por ocasião da formatura da minha filhota Lara. - Quem me visitou nesta semana foi meu sobrinho Carlos Magno da Silva. O rapaz fez especialização na França e é competentíssimo em sua área, o cérebro. - Teve início ontem a Primeira Semana da Poesia e da Literatura Infantil de Ipatinga, numa parceria das Secretarias de Cultura, Educação e Clesi. - Uma semana esplendorosa, apesar de tudo, com leitura de Salmos, versos de Cecília Meireles, música de João Gilberto, bolo com doce de maracujá, alegria e paaz, são os meus votos. - Críticas, sugestões e eventuais elogios pelo e-mail: nenadecastro@yahoo.com.br. Au Revoir.

FIM DE RELACIONAMENTO

Bom dia, coisa nenhuma! Bom dia é o escambau! Como é que você se atreve a me dirigir esse olhar súplice? Faz as coisas e depois vem com cara de cachorro, querendo carinho. Não vou dar carinho coisa nenhuma, pensa que já esqueci? Você faz e acontece, sai sem avisar, fica fora a noite toda, já chegou a ficar na esbórnia, dois dias e duas noites, de outra feita, uma semana inteira, e eu esperando, esperando, percorrendo as ruas a pé ou de carro, temendo te encontrar e fazer uma “cena de sangue num bar da Avenida São João”, ou melhor, Paladium. Afinal voltou sujo, desgrenhado, e eu acudi, dei comida, tratei com carinho,desvelo,oh, eu odeio este meu lado de “Amélia!” Enquanto estava sumido, perguntei a todos, inclusive ao carteiro que chamou no portão de casa, foi um frenesi, “pois quando o carteiro chegou, e o seu nome gritou, com uma carta na mão, ante surpresa tão rude, não sei como pude, chegar ao portão.” Não, não esperava que a carta fosse sua, você não tem o hábito de escrever , não liga mais para mim, acho que está “tudo acabado entre nós, hoje não há mais nada.” Não meu caro, não vou chamá-lo de nenê, como você adora, não chegue perto, não respondo por mim, estou avisando, vou fazer uma loucura!
Já agüentei demais, estou triste, lembro-me de quando o conheci, foi só um olhar e pronto, paixão fulminante, trouxe-o em casa para apresentar à família, beijinhos, abraços, cuidados, sorrisos, mas como todo homem, você já se esqueceu, tudo era mentira, onde foram parar as juras de amor eterno? O ciúme, o monstro dos olhos verdes, me corrói, “oh, como sou infeliz”. Por sua causa “briguei com todo mundo” lá em casa, por sua causa já passei ridículo, agora chega! “Por favor, pare agora”, senão vai acontecer uma tragédia! Você não pensa em mim, o que é que todo mundo vai dizer? Já não basta tudo de ruim que acontece pelo mundo afora? Crianças morrendo, “ de susto, de bala ou vício” e de fome, enquanto você tem do bom e do melhor nesta casa. Sempre me avisaram sobre sua raça, mas eu não quis ouvir, estava alucinada de paixão e na minha idade, “ o amor é uma grande laço.”
Recordo com ódio, de uma das vezes em que você voltou e ficou deitado uma semana, olhando para o nada, sorrindo, pensando NELA e “eu não quero mais nada, só vingança, vingança, vingança...”
Ingrato, quando esteve doente, cuidei de você, ficava à sua cabeceira, lhe dei alimentação
especial, e agora, me faz mais essa!
Estou á beira da loucura, há “um grito parado no ar”, enquanto você debocha e canta: “menino, eu sou é homem, menino eu sou é homem, e como sou! Arre!
Porém, o abismo final foi quando a mãe da mocinha veio aqui em casa, me contar tudo! Eu enlouqueci, não podia ser! Você não pensou em mim, na quantidade de crianças que já existem por aí, abandonadas, encarceradas, doentes, sem médico, sem remédio?
Insensato, lembrasse ao menos dos três filhos que temos em casa, já que não parece ligar para nada! Quer ser conhecido como o garanhão do Imbaúbas, nessa idade? Quer dizer que arranjou filhos por aí? E fez isso aqui no bairro, pra me matar de vergonha?
Não vou suportar, como vai cuidar deles? E se um deles for grande como o Tiago e comer daquele jeito, como vai ser? Sabe, é melhor ficar com ela, rapaz, hoje em dia não é como antigamente, que o sujeito fazia filhos e largava por aí; ainda que timidamente, as coisas estão mudando. Hoje há certo cuidado com as crianças, há o ECA, o Conselho Tutelar, eu mesma, quando atuava como Defensora Pública Municipal, ajuizei dezenas de Investigações de Paternidade, com sucesso, e ajudei a dar sobrenome, alimentos e assistência médica a muitas crianças! Ouça, aos poucos este país descobre, que, se continuar a ignorar e matar seus filhos, vai acabar dando com os burros nágua!
Só que, meu caro, se tiver que enfrentar a Justiça, não conte comigo para a sua defesa,”toma que o filho é seu!”
Não, não vou mais chamá-lo de nenê, nem faço cafuné, fim, finito, ces’t fini, zé fini, pois “nada será como antes, amanhã.”
Perdão, leitores, mas eu precisava desabafar! Ele não me ouviu e engravidou uma mocinha de família!
Pensando bem , fazer o quê! Anuncio orgulhosamente, que meu cachorrinho Kid é papai de uma ninhada ali na Rua Potássio. E vocês pensando bobagens a respeito do meu companheiro, hein?
Cabeças sujas!



Esta crônica foi a forma que usei, a fim de, mais uma vez, chamar a atenção para s necessidades infindas das crianças desse “meu Brasil brasileiro” Nela, há trechos de músicas contadas por Maria Bethânia, Ataulfo Alves, Isaurinha Garcia, Dalva de Oliveira, Linda Batista, Wanderléa, Caetano, Djavan, Ney Matogrosso, Ari Barroso, Milton NasciMento e até Kelly Key, que ouvi de uma adolescente na semana passada e achei engraçada. Além disso,, citei Gianfrancesco Guarnieri, eu “Um Grito Parado no Ar. Se não gostou da brincadeira, pode me puxar a orelha. Au Revoir

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MAS NÃO É QUE...?

O jornalista Roberto Pompeu de Toledo, da Revista VEJA, escreveu em 27 de fevereiro último que:“Barack Obama é inspirado orador, tem idéias arejadas, ostenta bom currículo, etc., mas o melhor que tem a oferecer aos EUA e ao mundo, é mesmo sua pele escura. Um presidente com voz fina de mulher e batom nos lábios também seria bom, mas um de pele escura é muito mais espetacular, para o efeito de chacoalhar os pressupostos e o gosto reinantes. Quando Obama estender a mão para outro chefe de estado, é a sua mão preta que estenderá e não se trata do presidente de um país africano, mas o da maior potência do mundo. Uma das atitudes racistas mais canalhas é a do branco que, numa disputa com o negro, aponta no próprio braço a cor da pele, para dizer como sua cor é superior à do outro. Um jogador de futebol fez isso, não faz muito, numa partida no Rio Grande do Sul. Essa pessoa que se sente tão superior porque tem a mão branca terá de aprender a viver num mundo (desconcertante, para ela) em que uma mão preta é que assina as ordens que farão a diferença entre a paz e a guerra, o progresso e a crise, ao redor do planeta, além de ter ao seu alcance os botões nucleares. A cara preta de Obama é que aparecerá todo dia nos vídeos do mundo inteiro. O cabelo duro de Obama e os lábios grossos de Obama é que dominarão a cena. A figura negra de Michelle, a mulher de Obama, é que estará ao seu lado, nas recepções na Casa Branca e nas visitas a outros países.Isso fará uma enorme diferença no mundo. Fará uma enorme diferença no Brasil.”Pois é, meus leitores e leitoras, isso tudo poderá ocorrer, caso não detonem, literalmente, o negro Barack, que tem a audácia de pretender ser o presidente dos EUA. O que vocês acham?ENLEVO...Dentro de mim, mistério infindo, se formou uma vida. Dentro de mim, poderosa, como a mãe-terra, parte cósmica do Planeta, a ínfima semente se formou, em segredo ancestral, divino, belo... Dentro de mim, no útero vermelho e dourado, cama macia, ela se aninhou, novel sementinha em espera pela primavera... Desenvolveu-se no andar dos dias, contando o tempo, cantando as músicas de que sabem os anjos, as fontezinhas nos montes, as aves nos ares, as ondas sob o céu... Não sei quais estrelas se cruzaram no firmamento, mas sei que Vésper reluzia, enviando, através do espaço, camadas douradas sobre a Terra, que ela, aninhada dentro de mim, não via, só percebia... Durante meses, respiramos o mesmo ar, nossos corações pareciam só um, batendo em cadência doce; em segredo, falávamos silenciosamente das tardes quentes, do raio de sol, da flor de inverno, do zumbir afetuoso das abelhas na primavera, nos mistérios da criação divina... Guardei-a comigo durante meses, naquela união de formas que se entrelaçam, para se aquecerem, deixando o amor ser a medida de todas as coisas. Nasceu, linda, perfeita, cabelinho fino e encaracolado, mas eu a amaria do mesmo jeito se assim não fosse, porque é parte de mim, e o todo de mãe só se completa pelo amor sem barreiras. Eu lhe escolhi o nome de Lara. O pai foi contra; “Lara, no Brasil, é sobrenome”. Expliquei que homenageava a heroína de Boris Pasternak, eternizada no filme Dr. Jivago, com Omar Sharif e Julie Christie, cuja música embalou toda uma geração. Para evitar discussões maiores, registrei-a como Larissa Lara. O que pode parecer estranho, mas resolveu a questão. E chamada de Lara, corajosa como a personagem que lhe deu o nome, a menininha cresceu e foi para a escolinha. Tão linda, parece-me ainda vê-la, sainha e tênis vermelhos, blusa e meia branca, segurando a merendeira, e a preciosa pastinha com papéis... Minha menininha cresceu mais ainda, tornou-se adulta e recebe seu diploma de Nutricionista no Unileste-MG, nesta quinta-feira. Como toda mãe, vou chorar de emoção. Afinal, é minha branquinha que se forma, o “último ovo que urubu botou”, como dizem na roça, em eterna troça com os caçulas, a “rapa do tacho”, o meu bebê que, de menina, transformou-se em uma linda jovem... Compartilho com meus leitores e leitoras, a nossa alegria. E na sua formatura, filha querida, eu lhe desejo o que desejo a todos os jovens: faça deste mundo o lugar melhor que lutamos por fazer, e não conseguimos. Espalhe o amor que lhe demos. E, seja muito, muito, feliz!ZOOM- Um abraço para meu amigo Genoves Bessa Pereira, que me prestigia, lendo estas mal-traçadas linhas toda semana. - Sei não, mas creio que há uma ou diversas queixadas de burro enterradas nos Balcãs. Eta lugar para dar encrenca! Pegue os livros de História e confira! - Caro Paulo Nascimento, obrigada pelo que me disse en passant outro dia, sobre continuar a escrever coisas bonitas para alegrar as pessoas. Merci. - Os preparativos para as comemorações do Centenário da Imigração Japonesa prosseguem a todo vapor. Participei de uma reunião na semana passada, com representantes da Usiminas, da Cenibra, o secretário de Cultura, José Osmir de Castro, o chefe do Departamento Cultural, Ewerton Campos, a secretária de Educação Marcia Perozzini, Marília Lacerda, pelo Clesi, as representantes da Tikufukai, coordenadores de escolas municipais; fiquei entusiasmada com o que se prepara para honrar nossos irmãos japoneses, tão caros para a comunidade ipatinguense. - Uma semana abençoada, com gosto de costela com ora-pro-nóbis, com angu e pimenta, mousse de limão como sobremesa, música de Bob Dylan e Djavan, contos de Lauro Trevisan, amor e paz, são os meus votos. Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

NO CARIBE SOPRAM OS VENTOS...

26/02/2008 -
Essa semana que passou foi pródiga em notícias sobre a renúncia de Fidel Castro. Quem diria, o líder da revolução cubana, o homem que tirou o sono dos americanos por mais de quatro décadas, sai pacificamente do cenário político cubano e mundial, após tantos anos de mão forte governando a ilha, não obstante os mais de trezentos atentados de que escapou, incólume! Para onde Cuba caminhará agora, eu não sei. Os fatos se sucederão no balanço dos dias, que caminham sempre, sempre, na sucessão de horas que marcam, segundo a segundo, a fragilidade da nossa caminhada sobre a Terra. E o fato é, quer queiram ou não os líderes mundiais, Fidel foi a encarnação do último mito do libertador da América, na eterna luta contra a supremacia norte-americana sobre os vizinhos do sul do continente. Hoje existem uns arremedos grotescos - vide Evo Morales e o impagável Coronel Chávez -, candidatos a ficar na História mais pelas bravatas e devaneios histriônicos do que por feitos memoráveis... Na época da chamada guerra fria, Cuba foi rotulada como estopim do mundo, aqueles mísseis soviéticos por lá, tiraram o sono de muito governante americano, a invasão desastrada da Baía dos Porcos foi um vexame para os gringos... Durante a execranda ditadura brasileira, era perigoso até pensar na ilha do Caribe, que tencionava exportar revolução marxista e, portanto, era o demônio que a direita precisava exorcizar... Inclusive provoca riso até hoje o caso de um escritor famoso que foi preso e duramente interrogado, por ter escrito um artigo sobre o Cubismo. Seu interrogador desconhecia os movimentos artísticos do mundo e não havia jeito de fazê-lo entender que esse Cubismo não era uma alusão a Cuba. O episódio é contado por Frei Betto em um dos livros em que narra a sua saga nos porões da Ditadura... Bom, o que acontecerá aos cubanos agora eu não sei, ninguém sabe, mas de uma coisa eu tenho certeza: torço pelo povo cubano, que é muito amável e demonstra um carinho imenso pelos brasileiros. Fui a um Congresso de Professores em Havana, em janeiro de 1993, e foi uma experiência enriquecedora tanto na área educacional, quanto na de conhecimento humano. Andar pelas ruas de La Habana, como os cubanos chamam sua capital, passear pelo Malecón, que é a avenida à beira-mar, de onde se avista a eterna luta das ondas contra a mureta, visitar o museu da Revolução, ir à praia de Varadero, e contemplar as águas verde-jade do Caribe, são coisas inesquecíveis! Descobrir que andar pelas ruas de La Habana é como andar em qualquer rua de cidade brasileira, encontrando negros, brancos, mulatos, naquela farra oriunda da miscigenação e integração social, foi uma alegria! Visitar a Cidade Vieja, parte antiga da cidade, cujos casarões lembram os de Salvador, tomar um mojito, bebida feita com rum, açúcar, água, limão e hortelã, (pronuncia-se morrito) na Bodeguita del Médio e ter a audácia de deixar a assinatura na parede que Hemingway e centenas de pessoas, famosas ou não, assinaram, foi emocionante. Tomar um sorvete na Sorveteria Coppelia, famosa no mundo inteiro, foi delicioso. Encontrar pelas ruas um cubano negro que falava português porque havia lutado em Angola, foi fascinante; verificar que o hotel Vedado, onde estávamos hospedadas, tinha sofrido um atentado por parte dos guerrilheiros castristas por ser sede da revista americana Seleções do Reader’s Digest, deu arrepios. Visitar a Marina Hemingway e assistir a um show de variedades, com música, dança e uma representação de orixás e rir à beça da baiana Daysi, que afirmou que os orixás da Bahia eram superiores, foi divertido. Ouvir do vice-ministro da Educação cubana que a América se dividia em 90% de pessoas que não dormiam, por fome, no Sul, e 10% ao Norte, que não dormiam por medo do percentual famélico, foi instigante. Passar perto do local aonde crianças brasileiras, contaminadas no acidente do Césio 137, em Goiânia, e as de Chernobyl, recebem tratamento, foi um instante terno. Visitar a Casa de Las Américas, que realiza um Concurso de Contos famoso no mundo inteiro e assistir uma palestra sobre as ditaduras da direita na América Latina, e seus malefícios, em especial no Paraguai, foi esclarecedor. Participar dos debates do Congresso Educacional e verificar os desafios vencidos pelos cubanos, foi envolvente. Conviver durante uma quinzena, com centenas de professores de todos os países da América do Sul, Espanha e México e ouvir suas experiências, foi especial; oferecer a alguns, o livreto OPUS com poesias de professores da Rede Municipal, (editado a partir de uma sugestão minha) foi prazeroso. Visitar um Centro de Educação que as crianças cubanas freqüentam após as aulas e onde fazem uma oficina de cada profissão que existe, para descobrir suas reais aptidões, ver funcionar a oficina de fabricação de vidro, de conservas e de telefonia, foi profundo; achar no local o livro de visitas assinado por personalidades do mundo inteiro, como Ho Chi Min (Vietnã do Norte) e Patrice Lumumba (Congo), entre outros, e deixar uma mensagem, encorajando os cubanos, assinando meu nome e deixando o nome de Ipatinga, do estado e do meu país, foi um atrevimento. Conhecer um cirurgião chamado Dr. Eugênio, que lutou com Guevara, foi o máximo; ver Fidel duas vezes, no início do Congresso, e no decorrer deste, falando mansamente a princípio, e emocionando-se ao mencionar o embargo americano, foi muito bonito. No moderníssimo teatro Karl Marx (que eles chamam de Car-los Mar-ques, assim arrastado), na noite do encerramento, no escuro, ouvir uma moça, sentada num banquinho, só com um foco de luz, tocando violão e cantando Coração de Estudante em espanhol, deu um aperto neste velho coração emocionado. E muitas outras coisas vi e presenciei, que me deixam na torcida, não por governo esquerdista ou de direita, mas pelo povo, pelos nossos irmãos, que merecem viver dias de fartura, alegria e paz. Pois é, no Caribe sopram os ventos! Que sejam ventos favoráveis aos cubanos...ZOOM- Ter toda a bagagem furtada do carro do meu sobrinho Clênio, que foi me apanhar no aeroporto em São Paulo, quando voltei de Cuba, me lançou de novo na dura realidade da insegurança de nosso país! Mas sobrou uma camiseta, que guardo com carinho, e umas lembrancinhas que uma garotinha da oficina de fabricação de vidro me deu, e estavam na pochete, na cintura! Ainda bem que ainda não inventaram um jeito de roubar lembranças! Ou será que eu é que não estou sabendo? Contudo, a viagem valeu a pena, se valeu! Um abraço para o sr. Vicente de Paula Lima, que toda semana lê minhas crônicas. - Sabem quem completou oitenta e nove aninhos ontem? Ela mesma, dona Inês Margarida Vieira, que vem a ser a senhora minha mãe! Lúcida e forte para a idade, graças a Deus! Passamos o domingo todo com ela comemorando a bênção! Parabéns, mãezinha querida! - Palmas para a grande Marízia Edite, que comemorou seu aniversário com uma big festança! Felicidades, amiga! - Leiam o ensaio de Roberto Pompeu Toledo sobre o significado da possível eleição de Barack Obama, na Veja desta semana. - Um dia cheio de bons negócios e bom trabalho para todos, muita cor, músicas do CD novo de Maria Rita, feijão tropeiro com couve e lombo assado, doce de figo em compota, crônicas de Rubem Alves, alegria e paaz, são os meus votos. - Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

MAMÃE, EU QUERO!

19/02/2008 -
(Da série: cartas familiares) Querida mamãe, a sua bênção.Como vão as coisas por aí? Eu lá vou indo naquela vidinha de sempre, pagando impostos, imposições, o pato e o diabo-a-quatro, de IMPOSTO DE RENDA, IPTU, IPVA, IPTBESTA, IPT-ANTA...Talvez a senhora tenha ficado um pouquinho preocupada com o título, mas pode ficar sossegadinha, eu não quero mamar no peito, afinal sou caçula, mas sou quase sexagenária e fica meio feio continuar no colo da mamãe, sugando leitinho. Mas a mamadeira eu continuo tomando, sabe como é, a gente precisa ficar fortinha pra agüentar essa vida. Se bem né, que anos atrás, uma jovem grega se casou com um rico empresário e este insistiu em levar a genitora na lua-de-mel. Todo dia ele dava um jeitinho, a esposa saía para compras, caminhadas, e ele ficava, a pretexto de negócios, até que um dia ela voltou antes do previsto e achou o maridão com a boca na botija, isto é no seio de mamãe!... Apesar do pobre rapaz ter explicado que era um vício do qual não conseguira se livrar e prometer que ia fazer análise, a moça pediu a anulação do casamento. Que falta de compreensão, era só procurar um discípulo do doutor Fróid! Não, mãe, eu não inventei isso, saiu em todos os jornais e revistas sérias da época; por mais que eu tenha a cabeça cheia de minhocas, não daria pra inventar uma coisa escabrosa dessa, não! Falando em bas fond, (ou bafão), minha querida mãezinha, acho que o problema de muitos políticos por aí, é que não mamaram o suficiente na infância, tadinhos, e na carência, qualquer teta serve, aí acharam a teta da coisa pública e mamam à vontade, e não largam mesmo, nem que a vaca tussa ou morra de febre amarela. Mãe, a senhora já pagou seus impostos? Paga tudo direitinho, senão dá cadeia, o negócio é pagar e se esforçar pra não chorar muito. Fazer o quê? É sempre assim, nós, brasileiros, entramos com o imposto e eles entram com a gastança; nós entramos com o traseiro e eles entram com o pé e ainda pedimos desculpas por estarmos de costas!Coitada da Ministra, né, mãe, ela não teve culpa de nada, aqueles assessores dela é que não explicaram direito para que servia o cartão, vai ver ela nem queria comprar nada, só mesmo umas roupinhas pras crianças, uns iogurtezinhos, uns sabonetes, sombrinha nova, só coisinhas básicas. Que culpa ela tem se a conta deu mais de 147 mil reais? Vai ver, eram comerciantes desonestos, que fraudaram as notas fiscais; quem sabe a pobrezinha é igual a mim, sua filha: sempre tive dificuldade em Matemática, e por isto sobra mês no meu salário, creio que é por causa dos três quilos de costela de boi e um quilo de farinha-de-pau que compro todo mês... Credo, todo mundo fica falando mal dela, acho que é porque ela tem aquele cabelo esquisito, eu sei o que é sofrer com cabelão, fica uma implicância das elites com o bleque pauer da gente, que é uma doidura; eita, isso é perseguição, pois já falei, a Ministra foi vítima de engano! Também outros políticos e funcionários do alto escalão se enganaram em Brasília e em outros rincões, e fica essa briga por causa de uns milhõezinhos à toa! Mas mãe, eu, que sempre lhe disse que ainda ia descobrir o que queria da vida, agora, quase sexagenária, finalmente consegui chegar a uma conclusão: tudo que eu quero mesmo, é um CARTÃO CORPORATIVO! Ê lasquêra, mãe, a senhora já pensou na beleza que vai ser, vou poder comprar uns dez quilos de costela de boi, uns vinte quilos de carne-seca, umas trinta rapadurinhas e amendoim pro pé-de-moleque, uns cinquenta queijim, dois vidrim de biotônico fontoura, uma alpargata azul, um pinico novinho, uma bicicleta de 2ª mão, uma dentadura nova e um par de botina 47 pro meu filho Tiago, que tem pezão! Vixe, que belezura, vou também pintar a casa de verde-amarelo, vai ficar bonito demais! Pois é mãe, só que tem uma coisa, eu queria priguntá pra senhora se não houve um engano nas coisas que me ensinou; sabe, a senhora sempre falou com a gente que não se deve furtar, nem ser desonesto, nem mentir, mas parece que algumas mães lá de Brasília e de alguns outros lugares por esse Brasil, esqueceram de falar isso com os filhos. Até fico pensando, com todo respeito, se a senhora não se enganou, não, não fique nervosa, não quero apanhar com o relho, arre, tudo que a senhora ensinou tá certo, sim! Mãe, ainda bem que a senhora não foi processada, eu aprendi a ler em casa, que perigo, um casal de Timóteo está educando os filhos por conta própria e deu um cafuçu danado, quase que dá cadeia, mesmo as crianças tendo sido aprovadas num vestibular de Direito, que coisa, hein mãe? Bom, as coisas continuam do mesmo jeito, assaltos, violência, buraco nas estradas, escândalos e escândalos, o presidente voa em seu avião e nós voamos junto com nossas contas, roubaram uns trecos secretos da Petrobás, quem manda não ter segurança, o patropi não toma tenência, mãe. Mãe, paro por aqui, porque o meu editor falou que vai me defenestrar, eu sou uma senhora honesta e não admito que façam indecências comigo, não. Por isso mesmo, esclareço que farinha-de-pau é farinha de mandioca, há muita gente maldosa por aí... Como estou esperando há mais de meio século pelo repartir do bolo, como dizem certos políticos, cheguei à conclusão de que quero a minha parte já, e em cartão corporativo. Já escrevi pro presidente solicitando o meu, que deve chegar em breve. Aguardo a senhora pra gente fazer paçoca de carne-seca socada no pilão. Um beijo respeitoso da sua filha caçula,NenaZOOM- Atenção, pessoal, a expressão lá vou é usada pelas pessoas simples. Dá um cacófato e é aconselhável tirar o lá, certo? Freud se grafa desta maneira. Ouvi a expressão doidura, de um senhor conversando com outra pessoa, ali na Valentim Pascoal, na descida do morro da delegacia, quando passava. Achei ótima! A palavra priguntá e a terminação em queijim, é fala de mineiro O correto é perguntar e o uso do sufixo inho. A ressalva é para os estudantes que estão lendo meus textos. - Para a nova geração, explico que relho é um trançado de couro que se usava como cabresto de cavalos, mas que servia também para nossos pais nos ensinarem boas-maneiras. Na roça se dizia rei e a gente deixava de fazer muita besteira com medo de ter de encarar “sua majestade”. - Um abraço para Osmar Pinheiro de Araújo, Enoc Pereira Rocha, Marcos Ladeira e Eliete e para a escritora Zarife Selim de Salles, nesta terça, pedindo a Deus que a conforte. - Vou te contar, o nível das músicas tocadas durante o casamento do advogado Geraldo Magela Silva e Juliana, ocorrido sábado passado, foi tudo de bom. Basta dizer que os músicos vieram especialmente de Belo Horizonte e todos foram guarda-mirins e alunos do grande maestro Oswaldo Machado de Oliveira. - Que lindo e-mail me enviou o advogado José Feliciano Neto! Merci - Eu e Marília Siqueira Lacerda estivemos na Escola Criativa da Vila, que desenvolve um grande projeto literário. Um abraço para as tias Lígia, Liége e Leila, e lógico, para todas as professoras e os alunos. Um dia cheio de azul, mesmo que você seja atleticano, com gosto de bolo de cenoura com calda de chocolate, suco de carambola, os contos maravilhosos de Ana Maria Machado, música de Marisa Monte, amor e paz, são os meus votos. Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

AH, ME PERMITAM...

07/02/2008 - Gente, que gracinha, a crônica do Rubem Braga que eu pedi outro dia, chegou. E chegou depressa, pelos cuidados do afilhado e editor, João Senna, que mal recebeu meu trabalho, localizou-a e me deu o presente! Também a recebi de um outro leitor, José Francisco Campos, que tendo estudado o texto na sua época de ginásio, fez a gentileza... E, além disso, veio um e-mail de uma senhora professora de Português, agora aposentada, que recentemente doou todos os seus livros e lamentava não poder ajudar. Coisa mais linda a solidariedade de meus leitores e leitoras! Fiquei tão entusiasmada que estou pensando em pedir também a quem lê estas mal-traçadas linhas, uns 10 quilos de costelinha de porco, uma bacia de queijo (que nem na piada do mineiro e o gênio da lâmpada) umas mudas de couve-manteiga e, quem sabe, um carro novo, o que acham?Falando sério, eu reli a crônica e percebi que vai muito além do que eu lembrava, é um exercício belíssimo de construção de texto, de domínio da “Última Flor do Lácio”, com destaque para a ironia e tristeza ante os fatos da existência. Por tal maestria com as palavras, Rubem Braga foi chamado o “príncipe” dos cronistas brasileiros. Talvez, pelo assunto, você nem ache bonita; contudo, o autor tem crônicas lindíssimas sobre mulheres, sobre o amor, sobre o Rio de Janeiro, sobre a natureza, sobre fatos engraçados do cotidiano...Mas permitam-me meus caros leitores e leitoras, degustar este texto com a lembrança de uma sala de aula com 32 normalistas, de sapatos pretos e meias brancas, saia de pregas azul marinho e alças em “v”, blusa branca, cabeça cheia de sonhos, numa manhã morna e doce, no Instituto Imaculada Conceição, em Valadares, ouvindo a leitura feita pela professora de Português e sonhando os sonhos dourados da juventude da década de 60...Amor e outros males (Rubem Braga)Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha de outro dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência. Mas o que a leitora estranha é que o cronista “qualifique o amor, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda”. E diz mais: “Não é possível que o senhor não ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo”. Não, minha senhora, não amo ninguém: o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último amor, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – “incômodo”. Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrança mesquinha; daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu. Não sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; não; não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e sensível – e não me tinha, nem de longe, amor algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias. A história acaba aqui; é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter contado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Durou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou. Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e à qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como bursite. Eu já tive um mês de bursite, minha senhora; dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra bursite, mas não volte nunca um amor como aquele. Bursite é uma dor burra,que dói, dói, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma topada numa pedra. E a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de impotência, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a “vontade de chorar e de morrer”, de que fala o samba? Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite...ZOOM- A professora Lúcia Castro Alves já regressou de sua viagem aos Estados Unidos. Seja bem-vinda! - Prossegue o Big Baboseira na Rede Globo. O tal Big Brother descambou feio. Aliás, a rede Globo vem perdendo audiência dia a dia. C´est la vie... - Um abraço para todos os que lêem minha coluna. Tenho recebido muitas manifestações de carinho. Merci. - A chuva chegou com vontade. Torçamos para que os danos à população sejam mínimos. A coisa andou feia em São Paulo, Itaipava (RJ) e em diversos locais desse chão das Gerais. - Abraços para o pessoal do Bom-ré-mi-fá, no Bom Retiro, que abre espaço para os músicos da região nas noites de segunda-feira. - “Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso”. Palavras do escritor Rubem Alves defendendo a eutanásia voluntária, ou seja, o ato de proporcionar uma morte tranqüila a uma pessoa em estado terminal. O que você acha, leitor? Depois dos embalos e excessos no feriadão do carnaval, um restinho de semana com muita alegria celebrando a vida da forma que você prefere, sem acidentes e sem tristezas, com música conforme o seu gosto, versos de Pablo Neruda, saladinhas refrescantes, mousse de maracujá e paz, são os meus votos.- Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.