quinta-feira, 22 de outubro de 2009

AH, ME PERMITAM...

07/02/2008 - Gente, que gracinha, a crônica do Rubem Braga que eu pedi outro dia, chegou. E chegou depressa, pelos cuidados do afilhado e editor, João Senna, que mal recebeu meu trabalho, localizou-a e me deu o presente! Também a recebi de um outro leitor, José Francisco Campos, que tendo estudado o texto na sua época de ginásio, fez a gentileza... E, além disso, veio um e-mail de uma senhora professora de Português, agora aposentada, que recentemente doou todos os seus livros e lamentava não poder ajudar. Coisa mais linda a solidariedade de meus leitores e leitoras! Fiquei tão entusiasmada que estou pensando em pedir também a quem lê estas mal-traçadas linhas, uns 10 quilos de costelinha de porco, uma bacia de queijo (que nem na piada do mineiro e o gênio da lâmpada) umas mudas de couve-manteiga e, quem sabe, um carro novo, o que acham?Falando sério, eu reli a crônica e percebi que vai muito além do que eu lembrava, é um exercício belíssimo de construção de texto, de domínio da “Última Flor do Lácio”, com destaque para a ironia e tristeza ante os fatos da existência. Por tal maestria com as palavras, Rubem Braga foi chamado o “príncipe” dos cronistas brasileiros. Talvez, pelo assunto, você nem ache bonita; contudo, o autor tem crônicas lindíssimas sobre mulheres, sobre o amor, sobre o Rio de Janeiro, sobre a natureza, sobre fatos engraçados do cotidiano...Mas permitam-me meus caros leitores e leitoras, degustar este texto com a lembrança de uma sala de aula com 32 normalistas, de sapatos pretos e meias brancas, saia de pregas azul marinho e alças em “v”, blusa branca, cabeça cheia de sonhos, numa manhã morna e doce, no Instituto Imaculada Conceição, em Valadares, ouvindo a leitura feita pela professora de Português e sonhando os sonhos dourados da juventude da década de 60...Amor e outros males (Rubem Braga)Uma delicada leitora me escreve: não gostou de uma crônica minha de outro dia, sobre dois amantes que se mataram. Pouca gente ou ninguém gostou dessa crônica; paciência. Mas o que a leitora estranha é que o cronista “qualifique o amor, o principal sentimento da humanidade, de coisa tão incômoda”. E diz mais: “Não é possível que o senhor não ame, e que, amando, julgue um sentimento de tal grandeza incômodo”. Não, minha senhora, não amo ninguém: o coração está velho e cansado. Mas a lembrança que tenho de meu último amor, anos atrás, foi exatamente isso que me inspirou esse vulgar adjetivo – “incômodo”. Na época eu usaria talvez adjetivo mais bonito, pois o amor, ainda que infeliz, era grande; mas é uma das tristes coisas desta vida sentir que um grande amor pode deixar apenas uma lembrança mesquinha; daquele ficou apenas esse adjetivo, que a aborreceu. Não sei se vale a pena lhe contar que a minha amada era linda; não; não a descreverei, porque só de revê-la em pensamento alguma coisa dói dentro de mim. Era linda, inteligente, pura e sensível – e não me tinha, nem de longe, amor algum; apenas uma leve amizade, igual a muitas outras e inferior a várias. A história acaba aqui; é, como vê, uma história terrivelmente sem graça, e que eu poderia ter contado em uma só frase. Mas o pior é que não foi curta. Durou, doeu e – perdoe, minha delicada leitora – incomodou. Eu andava pela rua e sua lembrança era alguma coisa encostada em minha cara, travesseiro no ar; era um terceiro braço que me faltava, e doía um pouco; era uma gravata que me enforcava devagar, suspensa de uma nuvem. A senhora acharia exagerado se eu lhe dissesse que aquele amor era uma cruz que eu carregava o dia inteiro e à qual eu dormia pregado; então serei mais modesto e mais prosaico dizendo que era como um mau jeito no pescoço que de vez em quando doía como bursite. Eu já tive um mês de bursite, minha senhora; dói de se dar guinchos, de se ter vontade de saltar pela janela. Pois que venha outra bursite, mas não volte nunca um amor como aquele. Bursite é uma dor burra,que dói, dói, mesmo, e vai doendo; a dor do amor tem de repente uma doçura, um instante de sonho que mesmo sabendo que não se tem esperança alguma a gente fica sonhando, como um menino bobo que vai andando distraído e de repente dá uma topada numa pedra. E a angústia lenta de quem parece que está morrendo afogado no ar, e o humilde sentimento de ridículo e de impotência, e o desânimo que às vezes invade o corpo e a alma, e a “vontade de chorar e de morrer”, de que fala o samba? Por favor, minha delicada leitora; se, pelo que escrevo, me tem alguma estima, por favor: me deseje uma boa bursite...ZOOM- A professora Lúcia Castro Alves já regressou de sua viagem aos Estados Unidos. Seja bem-vinda! - Prossegue o Big Baboseira na Rede Globo. O tal Big Brother descambou feio. Aliás, a rede Globo vem perdendo audiência dia a dia. C´est la vie... - Um abraço para todos os que lêem minha coluna. Tenho recebido muitas manifestações de carinho. Merci. - A chuva chegou com vontade. Torçamos para que os danos à população sejam mínimos. A coisa andou feia em São Paulo, Itaipava (RJ) e em diversos locais desse chão das Gerais. - Abraços para o pessoal do Bom-ré-mi-fá, no Bom Retiro, que abre espaço para os músicos da região nas noites de segunda-feira. - “Como um instrumento musical, a vida só vale a pena ser vivida enquanto o corpo for capaz de produzir música, ainda que seja a de um simples sorriso”. Palavras do escritor Rubem Alves defendendo a eutanásia voluntária, ou seja, o ato de proporcionar uma morte tranqüila a uma pessoa em estado terminal. O que você acha, leitor? Depois dos embalos e excessos no feriadão do carnaval, um restinho de semana com muita alegria celebrando a vida da forma que você prefere, sem acidentes e sem tristezas, com música conforme o seu gosto, versos de Pablo Neruda, saladinhas refrescantes, mousse de maracujá e paz, são os meus votos.- Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

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