quinta-feira, 22 de outubro de 2009

MAMÃE, EU QUERO!

19/02/2008 -
(Da série: cartas familiares) Querida mamãe, a sua bênção.Como vão as coisas por aí? Eu lá vou indo naquela vidinha de sempre, pagando impostos, imposições, o pato e o diabo-a-quatro, de IMPOSTO DE RENDA, IPTU, IPVA, IPTBESTA, IPT-ANTA...Talvez a senhora tenha ficado um pouquinho preocupada com o título, mas pode ficar sossegadinha, eu não quero mamar no peito, afinal sou caçula, mas sou quase sexagenária e fica meio feio continuar no colo da mamãe, sugando leitinho. Mas a mamadeira eu continuo tomando, sabe como é, a gente precisa ficar fortinha pra agüentar essa vida. Se bem né, que anos atrás, uma jovem grega se casou com um rico empresário e este insistiu em levar a genitora na lua-de-mel. Todo dia ele dava um jeitinho, a esposa saía para compras, caminhadas, e ele ficava, a pretexto de negócios, até que um dia ela voltou antes do previsto e achou o maridão com a boca na botija, isto é no seio de mamãe!... Apesar do pobre rapaz ter explicado que era um vício do qual não conseguira se livrar e prometer que ia fazer análise, a moça pediu a anulação do casamento. Que falta de compreensão, era só procurar um discípulo do doutor Fróid! Não, mãe, eu não inventei isso, saiu em todos os jornais e revistas sérias da época; por mais que eu tenha a cabeça cheia de minhocas, não daria pra inventar uma coisa escabrosa dessa, não! Falando em bas fond, (ou bafão), minha querida mãezinha, acho que o problema de muitos políticos por aí, é que não mamaram o suficiente na infância, tadinhos, e na carência, qualquer teta serve, aí acharam a teta da coisa pública e mamam à vontade, e não largam mesmo, nem que a vaca tussa ou morra de febre amarela. Mãe, a senhora já pagou seus impostos? Paga tudo direitinho, senão dá cadeia, o negócio é pagar e se esforçar pra não chorar muito. Fazer o quê? É sempre assim, nós, brasileiros, entramos com o imposto e eles entram com a gastança; nós entramos com o traseiro e eles entram com o pé e ainda pedimos desculpas por estarmos de costas!Coitada da Ministra, né, mãe, ela não teve culpa de nada, aqueles assessores dela é que não explicaram direito para que servia o cartão, vai ver ela nem queria comprar nada, só mesmo umas roupinhas pras crianças, uns iogurtezinhos, uns sabonetes, sombrinha nova, só coisinhas básicas. Que culpa ela tem se a conta deu mais de 147 mil reais? Vai ver, eram comerciantes desonestos, que fraudaram as notas fiscais; quem sabe a pobrezinha é igual a mim, sua filha: sempre tive dificuldade em Matemática, e por isto sobra mês no meu salário, creio que é por causa dos três quilos de costela de boi e um quilo de farinha-de-pau que compro todo mês... Credo, todo mundo fica falando mal dela, acho que é porque ela tem aquele cabelo esquisito, eu sei o que é sofrer com cabelão, fica uma implicância das elites com o bleque pauer da gente, que é uma doidura; eita, isso é perseguição, pois já falei, a Ministra foi vítima de engano! Também outros políticos e funcionários do alto escalão se enganaram em Brasília e em outros rincões, e fica essa briga por causa de uns milhõezinhos à toa! Mas mãe, eu, que sempre lhe disse que ainda ia descobrir o que queria da vida, agora, quase sexagenária, finalmente consegui chegar a uma conclusão: tudo que eu quero mesmo, é um CARTÃO CORPORATIVO! Ê lasquêra, mãe, a senhora já pensou na beleza que vai ser, vou poder comprar uns dez quilos de costela de boi, uns vinte quilos de carne-seca, umas trinta rapadurinhas e amendoim pro pé-de-moleque, uns cinquenta queijim, dois vidrim de biotônico fontoura, uma alpargata azul, um pinico novinho, uma bicicleta de 2ª mão, uma dentadura nova e um par de botina 47 pro meu filho Tiago, que tem pezão! Vixe, que belezura, vou também pintar a casa de verde-amarelo, vai ficar bonito demais! Pois é mãe, só que tem uma coisa, eu queria priguntá pra senhora se não houve um engano nas coisas que me ensinou; sabe, a senhora sempre falou com a gente que não se deve furtar, nem ser desonesto, nem mentir, mas parece que algumas mães lá de Brasília e de alguns outros lugares por esse Brasil, esqueceram de falar isso com os filhos. Até fico pensando, com todo respeito, se a senhora não se enganou, não, não fique nervosa, não quero apanhar com o relho, arre, tudo que a senhora ensinou tá certo, sim! Mãe, ainda bem que a senhora não foi processada, eu aprendi a ler em casa, que perigo, um casal de Timóteo está educando os filhos por conta própria e deu um cafuçu danado, quase que dá cadeia, mesmo as crianças tendo sido aprovadas num vestibular de Direito, que coisa, hein mãe? Bom, as coisas continuam do mesmo jeito, assaltos, violência, buraco nas estradas, escândalos e escândalos, o presidente voa em seu avião e nós voamos junto com nossas contas, roubaram uns trecos secretos da Petrobás, quem manda não ter segurança, o patropi não toma tenência, mãe. Mãe, paro por aqui, porque o meu editor falou que vai me defenestrar, eu sou uma senhora honesta e não admito que façam indecências comigo, não. Por isso mesmo, esclareço que farinha-de-pau é farinha de mandioca, há muita gente maldosa por aí... Como estou esperando há mais de meio século pelo repartir do bolo, como dizem certos políticos, cheguei à conclusão de que quero a minha parte já, e em cartão corporativo. Já escrevi pro presidente solicitando o meu, que deve chegar em breve. Aguardo a senhora pra gente fazer paçoca de carne-seca socada no pilão. Um beijo respeitoso da sua filha caçula,NenaZOOM- Atenção, pessoal, a expressão lá vou é usada pelas pessoas simples. Dá um cacófato e é aconselhável tirar o lá, certo? Freud se grafa desta maneira. Ouvi a expressão doidura, de um senhor conversando com outra pessoa, ali na Valentim Pascoal, na descida do morro da delegacia, quando passava. Achei ótima! A palavra priguntá e a terminação em queijim, é fala de mineiro O correto é perguntar e o uso do sufixo inho. A ressalva é para os estudantes que estão lendo meus textos. - Para a nova geração, explico que relho é um trançado de couro que se usava como cabresto de cavalos, mas que servia também para nossos pais nos ensinarem boas-maneiras. Na roça se dizia rei e a gente deixava de fazer muita besteira com medo de ter de encarar “sua majestade”. - Um abraço para Osmar Pinheiro de Araújo, Enoc Pereira Rocha, Marcos Ladeira e Eliete e para a escritora Zarife Selim de Salles, nesta terça, pedindo a Deus que a conforte. - Vou te contar, o nível das músicas tocadas durante o casamento do advogado Geraldo Magela Silva e Juliana, ocorrido sábado passado, foi tudo de bom. Basta dizer que os músicos vieram especialmente de Belo Horizonte e todos foram guarda-mirins e alunos do grande maestro Oswaldo Machado de Oliveira. - Que lindo e-mail me enviou o advogado José Feliciano Neto! Merci - Eu e Marília Siqueira Lacerda estivemos na Escola Criativa da Vila, que desenvolve um grande projeto literário. Um abraço para as tias Lígia, Liége e Leila, e lógico, para todas as professoras e os alunos. Um dia cheio de azul, mesmo que você seja atleticano, com gosto de bolo de cenoura com calda de chocolate, suco de carambola, os contos maravilhosos de Ana Maria Machado, música de Marisa Monte, amor e paz, são os meus votos. Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

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