domingo, 11 de outubro de 2009

DE HISTÓRIAS E CANÇÕES INFANTIS

11/12/2007 -
De certa feita, uma professora, colega de trabalho, passou um aperto tremendo com seus filhos pequenos; anunciaram a semana inteira a exibição de um filme que a mesma pensou ser um conto de fadas e ela prometeu fazer guloseimas para assistirem juntos a tão linda história. No sábado, salgadinho, pipoca e refrigerante à mão, assentou-se com os guris para curtir a atração. Porém, mal começou a exibição, Neide descobriu, horrorizada, que “Histórias que nossas Babás não Contaram”, tinha Adele de Fátima, (aquela mulataça linda) e uns anões que, ao invés de sair para cavar diamantes, ficavam em casa praticando algumas coisinhas que nada tinham com o imaginário infantil.Foi um sufoco para contornar a situação, o jeito foi levar os meninos para comer pizza, e eles, é claro, não queriam sair, pois estavam achando muito “interessantes” as cenas. Em se tratando de crianças, todo cuidado é pouco, mas na verdade, se você pegar os contos infantis, como foram escritos (ou recolhidos) pelos irmãos Grimm e por Charles Perrault, vai levar um susto! Estão recheados de violência, abandono de incapazes (Joãozinho e Maria) imprudência (a mãe de Chapeuzinho Vermelho mandando a menina ir sozinha levar bolo pra vovó e, além de tudo, deixando a pobre velhinha viver só no meio de uma floresta!) Tem o Barba Azul que, avesso a separações e divórcios, resolvia seus problemas conjugais assassinando todas aquelas esposas desobedientes, isso pra citar só alguns exemplos.Recentemente, ao reler uma coleção de contos infantis que tenho, quase dei um troço ao ler a versão de Perrault sobre Chapeuzinho Vermelho: nela o lobo come a vovó, a menina chega, percebe o que aconteceu, aceita o convite da fera, tira a roupa e se deita com o lobo! Eu, hein? Zooerastia e pedofilia da grossa! E se você acha que a tendinite já me chegou à cabeça, pode me procurar, que eu lhe mostro o livro! Mais tarde, veio Walt Disney e açucarou os contos infantis, onde tudo é maravilhoso e acaba, no “foram felizes para sempre”! Nesse repouso forçado, tenho tempo de sobra para pensar e fico imaginando se o casal foi feliz mesmo ou se partiu pras vias de fato, motivado talvez pela falta de asseio do príncipe, que não gostava de tomar banho (europeu não é muito chegado a água, dizem as boas línguas) e a Bela Adormecida resolveu dormir de novo para escapar do bodum? Minha tia, a terrível Lady Zeferina, sofreu à beça até ensinar ao Lorde inglês que foi o grande amor de sua vida, a dar uns mergulhos no rio, sob ameaça de abandoná-lo! Bobeiras à parte, há os que acham que Disney empobreceu e estragou as histórias, outros acham que está certo, elas devem ser mesmo róseas. E eu não acho nada, só leio, e escrevo essas coisas para, sadicamente, estragar o dia dos leitores e leitoras! Dizem que as histórias e canções infantis refletem o inconsciente coletivo de um povo, mostrando sua bravura, importância, heróis... Certo sociólogo e professor chamado Dirley Henriques, a partir da análise de canções infantis, acredita ter descoberto a causa da apatia dos brasileiros diante de nossos problemas! Ele afirma que “depois de uma frustrante busca por uma canção infantil do folclore brasileiro que fosse positiva e de uma longa reflexão, descobriu toda a origem dos problemas do Brasil! Tal problema seria o fato de sua população ter uma auto-estima muito baixa. Isso faz com que os brasileiros se sintam sempre inferiores e ameaçados, passivos o suficiente para aceitar qualquer tipo de extorsão e exploração, seja interna ou externa. Por que isto acontece? Trauma de infância!!! Ou melhor, trauma causado pelas canções de infância!!! E explica que nós somos ameaçados, amedrontados e encaramos tragédias desde o berço! Por isso, levamos tanta porrada da vida e ficamos quietos”. Para comprovar sua tese, o estudioso faz análise das canções infantis: começa falando de Atirei o pau no gato, que seria “uma clara demonstração de falta e respeito e crueldade com os animais, sem contar o sadismo da tal ‘dona Chica’, que nada faz para proteger o bichinho”! Quando cantamos “eu sou pobre, pobre, pobre, de marré, marré marré, eu sou rica, rica, rica, de marré de si”, colocamos a vergonhosa realidade da desigualdade social! Tem o caso do “vem cá Bitu, vem cá Bitu, vem cá, meu bem, vem cá. Não vou lá, não vou lá, não vou lá, tenho medo de apanhar”. Pelo sadismo da canção, vê-se que o pobre Bitu entrava no sarrafo! E no “marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito, vai preso pro quartel, vem a ameaça: ou obedece ou se estrepa! Não é à toa que o brasileiro aceita tudo de cabeça baixa! A canoa virou, quem deixou ela virar, foi por causa do fulano que não soube remar... Observe caro leitor(a) que a criança é incentivada a condenar e dedurar seu semelhante, em detrimento do valor que deve ser dado ao trabalho de equipe! E o pobre do “Sambalelê doente e de cabeça quebrada que precisava é de uma boa lambada”? Coitado, doente, necessitando de assistência médica, enfrentando as filas do SUS e ainda condenado ao espancamento! Deve ser um trabalhador negro, pela característica do nome, e é o caso de se chamar a polícia imediatamente, pois racismo é crime inafiançável. “O cravo brigou com a rosa” incita à violência conjugal e leva a criança a pensar numa série de desgraças tal, que não admira que ele se torne um adulto serial killer! O que poderão esperar do futuro os nossos filhos, se cantam “passa, passa passará, o último que passar, tem mulher e filhos que não pode sustentar!” Aqui já se fala para a criança que ela vai ter de enfrentar desemprego, falta de moradia, saneamento básico e a miséria resultante de desigualdades sociais, fomentadas pela politicalha que leva todo o nosso dinheiro nas malas, cuecas e congêneres! Mundo ingrato, não é leitor? E se você teve paciência de ler até aqui, mesmo depois de a cronista ter jogado titica no ventilador e avacalhado todas as lembranças das histórias infantis da sua infância, além das cantigas de roda, eu lhe desejo felicidades! Ainda ia comentar sobre o A Roupa Nova do Imperador, aquele cara que era chegado a um exibicionismo, mas nada mais digo, por receio de ser defenestrada pelo meu editor! Sou ignorante, mas não sou besta e sei que bobice demais dá problema! E tenha um ótimo e róseo dia!



ZOOM- O poeta José Carlos de Faria, o nosso Jorofa, mudou-se para Lagoa Santa, o que é uma pena. Mas promove encontro com os poetas da região nesta quinta-feira, com direito a comes e bebes, muito bate-papo e poesia. - Um abraço para minha amiga Ana Maria, da 1ª Vara Cível do Fórum e seus lindos filhos, nesta terça-feira. - De volta a Ipatinga, o jovem advogado Tiago de Castro, que foi participar de um ciclo de estudos no sul do Brasil. Se você está pensando que é o rapaz de 2 metros de altura lá de casa, acertou. - A juíza que permitiu que a menor permanecesse na cela com um monte de homens, lá no Pará, foi ouvida pelo Tribunal de Justiça daquele Estado É... - Nesse Natal, lembre-se das crianças do EFAN, do PROJETO VIDA NOVA, do LEIDE, dos internos do NAEMC... Vamos alegrar a quem precisa, faz bem a quem recebe e um bem imenso a quem doa. As modificações do trânsito no Horto vêm a calhar para aliviar o sufoco na hora do rush. O negócio é prestar atenção, para não entrar no local errado. - Nossos agradecimentos ao Instituto Pilar pela lembrança e pela amável cartinha. Nós é que agradecemos, o convívio com as crianças foi muito rico. - Um dia lindo com rosas vermelhas e narcisos em flor, avencas verdes e sorrisos de felicidade, música de Cássia Eller e versos de João Cabral de Melo Neto, e paaaaaaz, é claro. Críticas, sugestões e eventuais elogios, pelo e-mail nenadecastro@yahoo.com.br Au Revoir.

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